Dia-fragmento 03
- C C
- 7 de mar.
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Meu umbigo foi enterrado longe do mar. Foi um boi na pista que acendeu essa lembrança, feito um imenso vagalume cuja luz foi ofuscada pelo sol. Minha mãe, na esperança de que nenhum de nós levantasse voo, fincou os restos do cordão umbilical de cada filho sob a terra encardida de uma porteira. Em vão. Filho e sertão são sempre dores de partida. Choro. À beira do asfalto, o peão balança pra mim uma bandeira vermelha dizendo pode passar. Você não sabe, peão, mas dói. Dói não ser daqui e nem de lá. Você deveria saber que na aduana imaginária eles exigem minhas digitais, minhas lágrimas, meu suor. São donos do visto e da vista. Sorrio. Lembro que, apesar dos senhorios, sigo jogando o laço, peão, enquanto estrada houver.


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